quarta-feira, 27 de agosto de 2008

27.08; 13:51

[Ryan Adams - How do you keep love alive?]
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Estava a ler a Pitchfork, e estava a pensar na falta de emotividade em que vivemos. Parece-me uma globalização da não-emoção, do anti-sentimentalismo agoniante e do completo pró-racionalismo. Não me parece incólume as consequências sociais deste fenómeno. Faz-me pensar nas descrições que se fazia das grandes cidades, como Lisboa, enquanto crescia. Ninguém se conhece, não se conhecem os vizinhos, não se sabe o nome do tipo que vive à nossa frente nem dos miúdos que vivem no andar acima. É o que nos é pedido: ser racional. Ser burocrático, preencher papéis, e papéis, e papéis... Pensar em números, e em escrituras, e em folhas para preencher.
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Aliás, as nossas relações humanas passam tanto, e tanto por isso. Não me parece que nos preocupemos assim tanto quanto isso uns com os outros. Temos de ser racionais, temos de fazer a coisa certa, ouvir a coisa certa, dizer a coisa certa. E não podemos sentir nada, nada. Temos de seguir em frente. Assumir, integrar, e seguir em frente.
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Eu sinto. E sinto-me mal, de vez em quando, mas reservo-me o direito a assim acontecer. E reservo-me também o direito a ouvir o que me deixa emocionalmente abalado. Que bestial é sentir qualquer coisa! E estava a ouvir de novo o funeral e o silent alarm, e a pensar exactamente isso. É isso que é genial nos AF: é tão emocional! Nós sentimos isso, malta, we really do.

1 comentário:

Dra. Natalie Antunes disse...

"Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa