sábado, 24 de maio de 2008

25.08, 02:54

[Ryan Adams - Everybody Knows]

Comprei uma harmónica.

Tenho a noção de que não é perder tempo. Tenho tido algumas crises sobre o que é realmente importante. Tenho pensado sobre o lado conservador da coisa: imagino tudo o que me foi incutido tantas e tantas vezes sobre o quão importante é estudar, e o quão importante é ser ambicioso profissionalmente. Passam-me por vezes frases que ouvi repetidamente sobre pessoas que chegam a idades avançadas, e não me lembro de ouvir falar de pós-graduações, e formações académicas. Imagino-as falar sobre as grandes paixões da vida, os lugares que visitaram, as pessoas que conheceram. Lembro-me de ouvir dizer "estás a gastar demasiado tempo com a música, estuda mas é". Hey... eu gosto de música. Agora tenho a opção de fazer o que quero, já cheguei a algum lado. Não é um lado muito digno de cobiça, mas eu tenho orgulho nele.

Parece-me o seguinte: não tenho mais de 25 anos, tenho mesmo de conhecer mais coisas, se calhar mais do que empenhar-me mais, ou ler mais artigos. Se calhar tenho de pensar mais onde ir passar o fim de semana, ou não ficar com dor de consciência por ter passado as férias a ouvir discos novos.

Quando fizer 90 anos (improvável, mas hey...), de que é que me vou lembrar? Que recordações é que quero fazer agora para, quando chegar a essa idade, pensar: "que vida em cheio que eu tive!". Passa por concertos? Por viagens? Por tentar ser mais sociável, e conhecer mais gente? Por bloquear a vontade da passividade?

We'll all float on, alright.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu também penso demais no que faço e no que devia fazer, no que é responsável fazer e no que é natural. Por vezes questiono-me se tomei as decisões certas na minha vida: ter deixado uma vida fácil nesta cidade para ir perseguir sonhos no estrangeiro, ter gasto os milhares de euros que já gastei até agora em instrumentos, ter abandonado um curso no ISCTE que certamente me faria uma pessoa rica no futuro. A questão é que quando penso no quarto de século que já vivi e nos meus arrependimentos e momentos mais felizes, em nenhuma altura penso "devia ter estudado mais para os exames nacionais" ou "sinto-me orgulhoso daquele 16 a TOE" - penso sim no quão eterna e feliz foi aquela semana que fui viajar com aquela pessoa tão especial há tanto tempo atrás, em como eu me senti elevado e orgulhoso quando gravei uma maquete pela primeira vez, em como eu me senti imortal quando beijei uma rapariga que amava pela primeira vez. Todos os arrependimentos e desgostos que sinto em relação ao passado; nenhum deles é em relação à minha falta de empenho académico.

Eu acho que os estudos, a carreira e o politicamente correcto são a nossa navegação - mas não mais que isso. É um meio para atingir um fim. O que é que estamos aqui todos a fazer? O que é que é certo e louvável e errado e condenável? Eu não sei. Mas até descobrir, certo e louvável é o que me deixa feliz. Os estudos e a carreira serão um instrumento para fazer isso acontecer, para poder viajar mais, gravar mais maquetes, viver mais.

Trabalhei durante 6 meses e agora tenho 3600 euros - talvez gaste tudo numa guitarra. Ou não. aos 25 anos de idade já ninguém está em posição para julgar as nossas escolhas de vida.

Vitor Hugo Azevedo disse...

Bem, a minha vida académica sempre foi importante para mim. Senão, não estaria ligado a uma escola, e não seria doutorando. Acho que é importante essa experiência. E bem, tirar-se o doutoramento está cheio de relíquias: o conhecimento científico tem tanto a ver com música. Do que eu falo é mais: been there, done that, it's sooo nice, mas... é tão mais importante acordar todos os dias e ir trabalhar para o melhor emprego do mundo, e passar-se o dia leve, e conduzir um almera como se fosse um ferrari descapotável, e por o braço de fora, aumentar o volume, e pensar: "que bestial é a vida.". Fiz tudo o que queria, ou estou no processo, pelo mesmo próprio esforço, sem a ajuda de ninguém. Não dever nada a ninguém e ser-se quem se quer ser da vida é uma sensação bestial.